Texto de Beth Baldi –

Diferentes grupos compõem uma escola: os alunos, os professores, a equipe de apoio pedagógico – aqui incluídos coordenadores, funcionários e direção – e os pais dos alunos. Cada um tem suas próprias características e necessidades, que precisam ser consideradas e cuidadas para haver um bom nível de comunicação e integração entre eles, e, consequentemente, um clima favorável ao trabalho da escola.

Dentre esses grupos, nos parece que o de pais acaba sendo o mais descuidado pelas escolas em geral, porque normalmente não há um trabalho planejado para atender suas demandas específicas. Talvez por priorizar as necessidades dos demais grupos, mais diretamente relacionadas à função do ensino propriamente dito, a escola deixe o grupo de pais em “segundo plano”, resolvendo as questões que surgem nesse âmbito de forma quase espontânea, ou seja, sem o trato profissional necessário. Assim, acaba tendo trabalho dobrado, pelo desgaste que essas situações provocam ao não estarem previstas e pensadas suas possíveis soluções e encaminhamentos.

No entanto, não se pode ignorar a relação direta que há entre pais bem atendidos e informados e seu engajamento e parceria com a escola. O que quer dizer que se a equipe da escola não dispensa às famílias a atenção necessária, realizando um trabalho cotidiano e sistematizado em relação a elas, é provável que se defronte mais vezes do que desejaria com situações inusitadas e desgastantes, que acabam gerando desconfiança e insegurança. E, quanto menores os alunos, mais verdadeira é essa premissa.

Quando se trata de escolas infantis e de ensino fundamental, cujos alunos são menos autônomos e mais dependentes do adulto, os pais têm uma série de cuidados e preocupações legítimas, que implicam na necessidade de uma relação bem próxima com a escola. Eles precisam estar em contato frequente e próximo com os professores de seu filho, por exemplo, para conhecerem e confiarem e, assim, gradativamente, irem construindo essa relação fluída que tanto se deseja. Precisam que a escola forneça informação clara e atualizada sobre os filhos, como estão nas aprendizagens e relações, e sobre ela própria, o que pensa e como trabalha. Ao mesmo tempo, carecem de acolhimento, de apoio e às vezes de orientação, querendo ser ouvidos em relação a suas ideias e dúvidas.

A escola e os professores, por sua vez, também dependem do apoio dos pais para levar seu trabalho adiante. Para começar, precisam que eles mandem os filhos às aulas, sem faltas ou atrasos, que apoiem as crianças nas lições de casa, conversem com elas sobre algum conflito na sala, reforçando os limites colocados pela escola, e que estejam presentes em reuniões, em mostras ou exposições e eventos em geral relacionados ao trabalho dos filhos. Sem falar no acompanhamento à turma de seu filho em saídas de campo e na necessidade de responder bilhetes e solicitações diversas. Ou seja, supõem que os pais acompanhem o trabalho e a rotina escolares, participando deles de diferentes maneiras. E, para isso devem, não só estar dispostos a se mostrar, mas tomar iniciativas nesse sentido, com base em um planejamento sério e consistente como o da formação continuada da equipe e da sua atuação junto aos alunos, por exemplo.

A necessidade de informação dos pais pode ser resolvida de forma relativamente fácil, através de informes diversos em diferentes canais de comunicação disponibilizados. Por exemplo, relatórios de trabalho e fichas de avaliação dos alunos, entregues periodicamente e/ou postados no site da escola, mantêm os pais a par do que e como seus filhos estão estudando, do que acontece na sala e de como vêm se desenvolvendo; apresentações e discussões em reuniões ordinárias, focando diferentes aspectos da proposta da escola nas diversas áreas curriculares, distribuídos ao longo dos encontros anuais previstos, conforme a etapa da escolaridade, oportunizam às famílias uma visão mais aprofundada sobre os conteúdos e projetos trabalhados junto às crianças, explicitando seus fundamentos e razões de ser, bem como relacionando as propostas entre si e com os anos escolares seguintes; mostras de trabalho variadas, em que alunos e professores apresentam as produções realizadas a partir dos estudos, às vezes contando com a participação ativa dos pais, são maneiras de informar mais diretamente e de interagir com as famílias, assim como a vivência de encontros em torno de programações culturais. Além dessas, as postagens no site e na fanpage da escola de trabalhos e produções dos e com alunos, através de textos, fotos e vídeos, bem como a publicação de materiais de referências e reflexão sobre educação em geral, que a escola acha interessante compartilhar com os pais, tendo em vista alguma identificação com sua visão, são também ações enriquecedoras nesse sentido.

A expectativa de interação e de acolhimento, por sua vez, pode ser contemplada em espaços de conversa, nos quais se discute com as famílias, em grupos ou individualmente, e se aprofunda as informações que chegam de diversas maneiras ou fontes. Com os objetivos de ouvir os pais em suas dúvidas e ansiedades ou em seus questionamentos e sugestões, de mostrar solidariedade e compreensão, de apoiar e orientar, contando como se encaminha na escola tal situação e por que se faz assim, essas conversas não podem ter a pretensão de trazer uma resposta única como verdade, mas têm de se constituir em espaços de narração e diálogo e ser aproveitadas por pais e professores para ampliarem seu olhar sobre a criança ou a situação, o que por si só pode ajudar na solução. O formato dessas conversas varia e, de acordo com a sua temática, pode ser mais adequado promover palestras ou oficinas, reuniões individuais ou grupos de discussão, debates sobre filmes ou outros. Mas é certo que, quanto mais essas situações forem periódicas e previamente planejadas, indo ao encontro de necessidades observadas nas turmas ou em determinados alunos, mais elas tendem a cumprir com seus objetivos.

Também em sua organização e funcionamento cotidianos a escola pode mostrar sua atenção à necessária proximidade e interação entre os pais e destes com a sua equipe. Prever na entrada e na saída dos alunos, por exemplo, a possibilidade de contatos, ainda que rápidos, pode ser importante, além da troca através da agenda de recados e da garantia de horários para atendimento individualizado às famílias, previstos na rotina de professores e coordenadores.

Todas essas ações requerem da equipe da escola – funcionários, coordenadoras, professores e direção – preparo e postura adequados, de disponibilidade e clareza, de interesse e atenção, o que se obtém com formação continuada e intencional a partir da consciência de sua importância.

Da mesma forma, essa troca fica mais fácil se os pais se colocam numa posição construtiva e respeitosa perante a escola, o que normalmente se dá a partir do momento em que se sentem informados, acolhidos e ouvidos.

E assim, nesse processo de idas e vindas, em que as vias são bilaterais e as ações e reações estão intimamente relacionadas, pais e escola vão entendendo que têm o mesmo objetivo, afinal – o avanço de suas crianças –, e que estão “no mesmo time”. A escola, segura e convicta o suficiente de sua proposta pedagógica, tem prazer e orgulho de compartilhá-la, contagiando as famílias, cada vez mais parceiras. Os pais, com o acolhimento e os parâmetros claros de que necessitam, mostram mais tranquilidade e confiança. E a relação entre eles acontece com benefícios para todos, especialmente para os alunos.

Pais e Escola: por uma interação mais fluída e construtiva