Texto de Annete Baldi, Editora Projeto –
No início deste mês (do livro!), no dia 1º/4, assisti ao belo espetáculo “As únicas coisas eternas são as nuvens”, da Porto Alegre Cia de Dança, que completa em 2016 seus 8 anos de estrada e palco. Inspirado na poesia de Mario Quintana, o grupo dança com uma delicadeza ímpar e transporta a plateia para… as nuvens. Ao som da voz em off do poeta falecido há 22 anos, revive-se a beleza e a simplicidade da sua arte, com direito à sua doce gargalhada, para emocionar a todos, ao final.
E aí eu fiquei pensando que o ano de 2015 tirou da nossa convivência dois autores e amigos pra lá de queridos, alegres e vibrantes, criadores de livros muito especiais. Lá se foram para a vida eterna o Carlos Urbim em 13 de fevereiro e o Hermes Bernardi Jr. em 21 de novembro do ano passado. E quanta saudade ficou.
Mas lembrar é a nossa forma de continuar a amar e a valorizar a obra deles. Por isso não queremos esquecer da alegria que era encontrá-los e abraçá-los. Não queremos esquecer das suas gargalhadas. Não queremos esquecer das conversas com eles. Não queremos esquecer como era bom ouvi-los e vê-los. Por isso nós vamos ficar por aqui, sempre lembrando deles, puxando da memória por cada pequeno momento que compartilhamos e que foram, portanto, únicos.
Em anos anteriores, já havíamos experimentado outras partidas aqui na editora: a de Gisele Lotufo em 2004, a de Elias José em 2008, e a de María Elena Walsh em 2011. Mas porque alguns anos já se passaram ou talvez porque tenhamos tido uma convivência menos intensa com Elias que morava em Guaxupé/MG, ou nenhuma como nos casos da Gisele e da María Elena, o aperto no coração hoje quando pensamos neles é um pouco mais suave. No caso do Urbim e do Hermes o aperto é muito grande ainda, embora tenhamos a certeza de que ele vai suavizar com o passar do tempo.
A raça perfeita, Boneco maluco e outras brincadeiras, Lua no brejo com novas trovas, Zoo louco, Diário de um guri, Lata de tesouros, Dever de casa, Para entender PAI & MÃE, Planeta Caiqueria, E um rinoceronte dobrado e Dez casas e um poste que Pedro fez seguem sendo reimpressos, circulando, sendo lidos e relidos. E em cada leitura de um poema ou de uma linha escrita por esses autores renova-se o encanto da sua criação e reafirma-se o espaço deles em nossa memória.
Acho que é bem nessa hora que eles ficam de lá, sentados quem sabe nas nuvens, a nos espiar e a dar risada.
ps – na semana passada, dia 19/4, depois que eu já havia escrito este texto, recebi a notícia do falecimento da Sissa Jacoby. Ela foi (e é!) uma das 3 pesquisadoras que criaram as maravilhosas antologias Poesia fora da estante e Poesia fora da estante – Volume 2, dois long-sellers da editora, dos quais nos orgulhamos muito.Vai em paz, Sissa!