Texto de Beth Baldi –

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Aproveito este espaço para contar sobre um projeto de leitura, que nos é especialmente caro na Escola Projeto e que está em pleno andamento neste momento: o mergulho, por todas as turmas, na obra de um determinado escritor escolhido, lida ao longo do 1º trimestre letivo.

Este ano estamos trabalhando com a autora Heloisa Prieto, cuja obra variada e rica contempla interesses e possibilidades de crianças de diferentes idades. Já exploramos dentro deste projeto a obra de escritores como Ana Maria Machado, Elias José, Roger Mello, Ricardo Azevedo, Angela Lago, Luis Camargo, Carlos Urbim, Eva Furnari, André Neves, Marilda Castanha, Leo Cunha, Roseana Murray, Guto Lins, Sérgio Capparelli, Rogério Andrade Barbosa e Ernani Ssó, entre outros, ampliando o repertório literário dos alunos, numa perspectiva de valorização da leitura e da construção de uma história de leitor.

Trata-se de um trabalho sistematizado, que contempla diferentes modalidades de leitura, bem como propostas variadas de atividades, que visam explorar os textos de formas e com profundidades diferentes.

Dentro da Unidade Literária propriamente dita, que desenvolve um trabalho mais específico de compreensão textual e exploração de linguagem, as sequências didáticas são planejadas para cada texto ou livro escolhido. Os critérios para a escolha, nesse caso, se relacionam mais diretamente com a idade dos alunos, uma vez que a qualidade literária já foi garantida na escolha do autor. Todos os alunos devem ter em mãos cada texto trabalhado, já que é uma leitura exploratória de vários dos seus elementos, em termos de conteúdo (vocabulário e sentidos do texto, a partir da discussão sobre o assunto, as características dos personagens, o ambiente, o tempo, a sequência de fatos, os conflitos, as soluções e desfechos, bem como as relações entre esses elementos e até com outros textos ou com a realidade próxima dos alunos) e de forma (estrutura e linguagem, incluindo recursos utilizados pelo autor, forma de narração e gênero textual, bem como projeto gráfico do livro), que necessita de muitas idas e vindas ao texto. Em geral, na escola, selecionamos 12 textos, pelo menos, para essa modalidade, pensando em trabalhar um deles por semana e ficar com alguma margem, já que o trimestre tem de 13 a 14 semanas. Assim, as sequências didáticas que exploram cada texto, devem levar em conta o número de sessões semanais que a turma tem disponível para esse eixo do trabalho em Língua, sem deixar de incluir as diferentes etapas necessárias: aquecimento ou motivação para a leitura, leitura propriamente dita, aprofundamento e produção a partir da leitura. Pode ser muito oportuno, ainda, realizar um fechamento da unidade em termos de um olhar para o todo do trabalho vivenciado, com a intenção de caracterizar a obra de alguma maneira, conforme as possibilidades dos alunos (temáticas mais frequentes, linguagem, gênero literário etc.). Isso pode auxiliar muito na preparação do encontro com o autor, que se dá no final do trimestre.

Paralelamente, acontece a Leitura Individualizada: uma obra do autor é lida em casa pelos alunos por um determinado período (aproximadamente 1 mês). A escola indica um livro por série, dentre aqueles que a equipe acredita possíveis de serem lidos pelo aluno sozinho. Essa obra é adquirida pelos alunos e ao final desse tempo há a sua exploração em sala de aula, visando, principalmente, oportunizar uma troca entre os alunos sobre ela: como foi a leitura (fácil ou difícil, gostosa e fluída ou chata e custosa, feita de uma vez só ou em partes a cada dia, com ou sem ajuda de um adulto etc.), que personagens mais chamaram atenção e/ou com qual(is) deles se identificaram e por quê, o que mais gostaram na história ou o que não gostaram, o que sentiram (houve situações de emoção, de medo ou suspense, engraçadas, tristes?), se concordaram ou não com determinado comportamento de algum personagem e por quê, o que acharam do final etc. Esse tipo de exploração pode ser feita através de um seminário, em que cada aluno se manifesta, discutindo-se o livro com a turma. Para que essa discussão seja mais proveitosa e a maioria dos alunos participe (não só aqueles mais falantes), é importante que se proporcione uma preparação, propondo que cada aluno, individualmente, registre suas ideias a partir dos tópicos a serem tratados, refletindo sobre eles antes de se manifestar. Além disso, é claro, a coordenação da professora, chamando a todos e convidando cada um a dizer o que pensou, é fundamental. Alguma proposta de representação cênica em pequenos grupos ou de expressão artística sobre a história ou parte dela, bem como a produção de uma recomendação de leitura do texto a outras turmas, podem ser especialmente enriquecedoras e oportunas nesse contexto.

Outra modalidade, que complementa a proposta, é a Leitura Socializada. Através dela garantimos um momento diário de leitura pela professora aos alunos, de um capítulo ou uma parte de uma obra escolhida do autor, dentre aquelas que o aluno não teria condições de ler sozinho, seja pelo volume de texto ou pela complexidade do vocabulário, linguagem ou estrutura. Ou seja, o professor pode escolher aqui um texto mais denso, até em relação à temática, que, sendo lido por ele aos alunos, e aos poucos, é possível que esteja num nível além da sua capacidade autônoma de leitura. O objetivo desta modalidade é ampliar a capacidade de leitura, garantindo a fruição conjunta, ou seja, curtir uma história em grupo, criando com esse grupo uma cumplicidade em torno de um universo de ficção e de referências literárias. Essa leitura dura um mês ou mais, conforme o livro escolhido e não precisa ocupar mais de 15 minutos da rotina escolar diária, recordando-se em conjunto e rapidamente a leitura do dia anterior, lendo a parte selecionada para o dia e construindo hipóteses sobre sua continuidade.

As três modalidades, sendo desenvolvidas simultaneamente, oportunizam aquilo que chamávamos lá no início de “mergulho” na obra do autor escolhido, de maneira que as diferentes turmas, cada uma a seu modo e no seu nível, interagem com essa obra e se apropriam dela, construindo requisitos mínimos para aproveitar de fato um contato com seu criador, fazendo do encontro com o autor – organizado como um dos fechamentos do projeto – uma experiência significativa, que contribui para o seu avanço como leitor.

Além desse encontro, que consta de uma conversa com o escritor, em que os alunos perguntam e comentam e ele relata suas experiências e conta histórias, organizamos, como atividades finais do projeto, uma mostra dos trabalhos produzidos ao longo do estudo e a Feira do Livro da escola, que acontece no final do trimestre (último final de semana de maio), quando, então, o autor autografa suas obras, conversando e interagindo com alunos e pais.

 

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Um projeto de leitura