Texto de Beth Baldi –

Violência, morte, gênero, casais homoafetivos, medo, amor, desejo, separação, abandono e drogas são alguns dos temas-tabus sobre os quais conversamos no EPP do dia 6/10 com a psicanalista e escritora Diana Corso. São assuntos delicados e difíceis, que todos nós enfrentamos, pois eles fazem parte da vida, mas que nem sempre conseguimos abordar ou discutir na escola, seja por dificuldades nossas (dos professores), seja por dificuldades das famílias ou dos próprios alunos. Eles chegam a impedir, por exemplo, que determinados livros sejam adotados nas escolas ou mesmo constem nos acervos de suas bibliotecas.

Diana nos contou várias histórias que nos ajudaram a pensar em algumas dessas questões, analisando o assunto a partir delas e nos permitindo entender um pouco melhor por que elas mexem com a gente ou nos assustam tanto, seja como pais ou como educadores nas escolas.

Destaco, aqui, algumas das ideias da palestrante que me chamaram mais atenção e algumas perguntas que ficaram para mim a partir delas, no intuito de continuar a discussão que lá teve início.

A diferença entre Arte e entretenimento, como categorias em que podemos situar os produtos culturais (livros, filmes, espetáculos teatrais), nos alerta para a capacidade de nos tocar e penetrar da primeira e a superficialidade da segunda. Os contos de fadas clássicos, por exemplo, como literatura da melhor qualidade, se situam na categoria Arte, pois tratam de dramas humanos que permanecem e tocaram diversas gerações desde que foram compilados e editados para crianças. As necessidades da criança de repetição de determinadas histórias e sua possibilidade de editá-las (adorei esse termo!), como ser pensante que é, a partir de suas vivências e subjetividade, nos levam à importância de ouvi-la e observá-la com atenção, bem como de oferecer-lhe um “cardápio vasto”. É em meio a essa variedade de histórias, especialmente se elas forem literatura de qualidade, que as crianças e jovens vão poder escolher aquelas que as apaixonam, repeti-las tantas vezes quantas forem necessárias, cada vez entendendo alguma parte ou de um jeito diferente, e entrar em contato com seu inconsciente e sintomas pessoais, (re)conhecendo suas características e limitações e, nesse processo de edição, evitando ou repetindo seus dramas.

As preocupações dos pais, por sua vez, geralmente se relacionam com um inconsciente familiar, por isso é tão delicado lidar com elas. Além disso, as famílias nucleares atualmente concentram muitas ambiguidades e tensões inconscientes, além das conscientes “ditadas” pela cultura do medo e do politicamente correto, que questiona, por exemplo, a expressão “atirei um pau no gato” da tradicional canção infantil, como possível estimuladora da violência para com os animais, ou o cachimbo do Saci, como possível incentivador do craque.

A partir daí, fiquei me perguntando:

– seria interessante antecipar aos pais o cardápio escolhido para cada ano da escolaridade, apresentando e comentando os diferentes livros que serão lidos com os alunos e as questões que eles trazem, no sentido de dar vazão à possível ansiedade que algum deles poderá gerar, sem que isso, depois, interfira negativamente no andamento do trabalho com os alunos?

– levar algum profissional da psicologia poderia ajudar os pais a entenderem esses seus medos em relação aos filhos, auxiliando-os a apostarem mais na capacidade deles de edição do que ouvem, veem ou leem?

– como saber que uma história ou um livro é realmente literatura de qualidade ou arte, na qual vale à pena investir, oferecendo aos alunos e defendendo perante os pais mais preocupados, se for o caso?

Vamos conversar? Discuta com sua equipe e compartilhe as formulações de vocês. Parece-nos que este é um assunto que “dá pano pra manga” e, nesses casos, quanto mais conversarmos, mais ampliaremos nosso repertório de propostas para lidar com situações vividas na escola relacionadas a ele.

Iniciando um fórum no BLOG PROFESSOR PENSANTE: o tabu na sala de aula